Metabolismo energético: como o músculo obtém energia?
Os músculos
são compostos por longas células denominadas fibras musculares (ver Tecido Muscular), MAS não existe apenas um único
tipo dessa célula! Nossos músculos na verdade podem ser formados por diferentes
tipos de fibras musculares cujas capacidades contráteis e de metabolismo
influenciam a função do músculo em relação à força, rapidez e resistência à
fadiga em cada movimento. Ou seja, diferentes características do movimento
são determinadas pelas diferentes propriedades das fibras musculares.
Os tipos de
células musculares diferem entre si em relação ao mecanismo de obtenção de
energia, ou seja, ao seu metabolismo energético. Ora, o músculo
precisa de energia para funcionar (como todos os órgãos do nosso corpo!), então
a forma como é gerada energia nas células musculares vai influenciar a
função do músculo e o tipo de movimento gerado!
Existem três
maneiras para obtenção de energia pelas células musculares: o metabolismo
aeróbico e anaeróbico, que usam como principal substrato a glicose
proveniente da dieta, que chega até as fibras musculares pela corrente
sanguínea e, devido sua importância, é armazenada nos músculos (e no fígado) na
forma de glicogênio; e, um sistema alternativo que utiliza compostos ricos em
fosfato (necessário para as moléculas de ATP – trifosfato de adenosina).
|
|
As fibras
musculares podem ter um metabolismo energético predominante, ou seja, estar
adaptada a seguir mais uma via que outra na obtenção de energia. Com isso,
formam-se grupos diferentes de fibras musculares que são classificadas de
acordo com seu funcionamento e estão relacionadas aos tipos de exercício.
Alguns
conceitos:
Força muscular: está diretamente relacionada ao tamanho transversal do
músculo e a força máxima que o músculo pode desenvolver; quanto maior o
diâmetro do músculo, maior número de fibras musculares que contraem e
produzem força.
Potência de contração muscular: é o quão
rápido que o músculo pode desenvolver sua força máxima; depende da força e da
velocidade.
Resistência muscular: capacidade do músculo gerar e manter a força máxima
repetidamente, o quanto o músculo aguenta manter sua atividade.
|
Você
sabia? O condicionamento
físico é o treinamento para aumentar a força, potência e resistência do
desempenho muscular. Utilizam-se pesos, pulos (saltos) e exercício isométrico
(Ver Contração Muscular). Esse treinamento faz com que
as fibras musculares aumentem de tamanho (hipertrofia muscular) devido aumento
da quantidade de proteínas que participam da contração e enzimas das várias
reações metabólicas, e diminuição de sua degradação ou decomposição
(metabolismo proteico). Aumentando-se a força dos músculos (hipertrofia),
pode-se aumentar também sua potência. Melhoras na força, na dieta e no
desempenho cardiovascular podem aumentar a resistência muscular. Esse é um
preparo físico que serve tanto para atletas profissionais como para quem quer
se exercitar no fim de semana.
Tipos de
fibras musculares
Os
diferentes tipos de fibras musculares podem ser agrupados em três grandes grupos:
fibras musculares lentas, fibras musculares intermediárias e fibras
musculares rápidas. Cada músculo tem uma proporção desses três tipos
de células: a quantidade de fibras de contração rápida ou lenta presente vai
depender da atividade e da função que esse músculo desempenha no corpo. Porém,
com treinamentos específicos esse perfil de fibras musculares pode ser alterado
de acordo com as necessidades energéticas exigidas pelo tipo de exercício.
Por exemplo,
a maioria das pessoas apresenta um equilíbrio entre os tipos principais de
fibras musculares (50-60%), porém, maratonistas possuem aproximadamente 75%
fibras musculares lentas enquanto que em velocistas há mais fibras musculares
rápidas, chegando a 80%.
De fato,
tanto o treino como a inatividade podem alterar o perfil de distribuição das
fibras musculares no corpo, adaptando o indivíduo a um ou outro exercício, ou
mesmo a falta dele.
Essa mudança
ocorre gradualmente e a transformação das células musculares depende de um
processo contínuo de adaptações fisiológicas e metabólicas em resposta ao tipo
de treinamento e/ou atividade que são praticados.
Miscrosopia: corte longitudinal de músculo esquelético. Usando técnica
para marcação dos tipos de fibras musculares. As fibras escuras são do tipo rápida
e as claras do tipo lenta.
Fibras
musculares lentas e resistência
As fibras
musculares lentas também são chamadas de fibras musculares do tipo I, fibras
musculares vermelhas, aeróbicas ou ainda oxidativas, denominações referentes ao
seu metabolismo, morfologia e funcionamento. Seu metabolismo energético é
caracterizado pela respiração celular (ou aeróbica), principalmente, e isso é o
que vai determinar suas características diferenciais.
Morfologia:
·
por serem dependentes da disponibilidade oxigênio
para geração de energia
o possuem maior vascularização (maior presença de capilares sanguíneos)
o maior quantidade de mitocôndrias (organelas da respiração celular)
o maior quantidade de proteínas globulares denominadas mioglobinas
A função das
mioglobinas, semelhante a das hemoglobinas no sangue, é transportar e
estocar oxigênio aumentando a disponibilidade de oxigênio para as mitocôndrias
durante o processo de respiração. As mioglobinas possuem ferro em sua
estrutura conferindo às fibras musculares lentas aspecto mais avermelhado (por
isso também são chamadas de fibras musculares vermelhas).
·
apresentam pequeno diâmetro e são menores se
comparadas às fibras musculares rápidas
·
os neurônios (ou motoneurônios) que inervam essas
fibras, também caracterizam-se pelo menor calibre. Isso quer dizer que:
conduzem "menos" estímulos por unidade de tempo, ou seja, a
velocidade do impulso nervoso que chega e estimula essas células musculares é
menor. São denominados motoneurônios alfa-2 ou α-2.
As propriedades
das fibras tipo I, como já foi dito, são consequência do seu metabolismo
aeróbico (obtenção de energia – ATP – através do processo lento de respiração
celular). Essas células apresentam:
·
geração de energia aeróbica;
·
grande número de enzimas oxidativas;
·
alta capacidade de oxidar (queimar, consumir)
gordura, carboidratos e até mesmo ácido lático;
·
baixa capacidade de manipular íon cálcio (Ca2+)
e baixa atividade da enzima miosina ATPase (ver Contração Muscular), que são
responsáveis basicamente pela velocidade de contração e relaxamento dos
músculos: as fibras tipo I têm velocidade de contração menor;
·
menor potência máxima de contração;
·
baixa capacidade de gerar força e
·
baixa fatigabilidade (maior resistência à fadiga).
Em relação
ao exercício, uma das principais características das fibras musculares lentas é
que, por seu metabolismo não ser o de fermentação anaeróbica, não há formação
de metabólitos tóxicos para a célula como o ácido lático, e melhor ainda, as
fibras tipo I têm a capacidade de metaboliza-los. Dessa maneira, essas células
apresentam grande RESISTÊNCIA à fadiga possibilitando maior duração da ação
muscular. São, então, adaptadas para a resistência de contração, vantagem para
atividades prolongadas e contínuas, esforços duradouros de minutos a horas.
Assim, estão
presentes em grande quantidade nos músculos responsáveis por sustentação e
resistência, cuja resposta aos estímulos ocorre lentamente, o que fornece maior
quantidade de energia, e por mais tempo. Atividades como a Maratona (corrida),
natação, caminhada, ciclismo e ginástica (exercício de intensidade moderada ou
baixa e geralmente de longa duração) são predominantemente
aeróbias. Além dessas, a própria sustentação do corpo contra a
gravidade, a manutenção e correção da postura (pelos chamados músculos
posturais), evitando-se posições desconfortáveis, deve ser de ação de fibras
resistentes como as do tipo I, senão, não ficaríamos de pé por muito tempo!
Músculos posturais
Fibras
musculares rápidas, força e velocidade
As fibras
musculares rápidas são denominadas fisiologicamente como fibras musculares
do tipo II. Esse grupo de células se subdivide em dois principais tipos: fibras
musculares do tipo IIa e do tipo IIb. As fibras musculares rápidas propriamente
ditas são as do tipo IIb; as do tipo IIa são as consideradas fibras musculares
intermediárias. As fibras musculares rápidas são também conhecidas como fibras
musculares brancas, anaeróbicas ou glicolíticas.
As fibras
musculares do tipo IIb caracterizam-se por um metabolismo não dependente de
oxigênio denominado fermentação lática que segue a via glicolítica.
Basicamente, as moléculas de glicose são metabolizadas rapidamente, porém de
forma incompleta gerando além de ATP, moléculas orgânicas como o ácido lático
cujo acúmulo é uma das razões que levam o músculo à fadiga. Assim, a produção
de energia por essas fibras é rápida por ser um processo mais simples, porém é
também limitada porque não há resistência à fadiga e produz ATP em menor
quantidade.
Morfologia:
·
são maiores em diâmetro
·
apresentam menor vascularização (menor número de
capilares sanguíneos)
·
por não depender tanto do oxigênio para seu
metabolismo energético
o apresentam pequena quantidade de mitocôndrias e mioglobinas, e
consequentemente têm aspecto mais pálido, de cor vermelho mais claro ou
esbranquiçado.
o por outro lado, sua reserva de glicose (substrato principal
metabolizado para produção de energia) é maior com grande quantidade de
grânulos de glicogênio (reservatório) que permite acesso rápido de glicose para
fermentação.
Propriedades:
·
alta atividade da miosina ATPase e alta liberação e
captação de Ca2+, ou seja, alta velocidade de contração;
·
maior capacidade de gerar força;
·
fatigabiliade alta ou moderada;
·
maior potência máxima de contração;
·
mais enzimas glicolíticas (glicólise e
fermentação), que intensificam metabolismo de carboidratos e
·
inervação por motoneurônios do tipo alfa-1 ou α-1
o diâmetro é maior o que possibilita maior velocidade de condução de
impulsos nervosos para as fibras musculares; mais impulsos nervosos por unidade
de tempo.
|
|
Em relação
ao funcionamento dessas fibras musculares no exercício, sua principal
característica é a VELOCIDADE e FORÇA. Exercício com alta intensidade e pouca
duração é o cenário no qual as fibras do tipo IIb estão atuando como
protagonistas. Essas são capazes de fornecer grande quantidade de potência, mas
suportam apenas alguns segundos ou poucos minutos de trabalho, porque não
são resistentes à fadiga. São usadas, por exemplo, em corridas curtas (100m) e
saltos (em altura ou distância), levantamento de peso, e qualquer outro
exercício intenso e curto. Compõem músculos com prioridade de contração muito
rápida e forte!
Fibras
musculares intermediárias
As fibras
musculares intermediárias (tipo IIa) são também conhecidas como fibras
musculares rápidas resistentes à fadiga e possuem característica intermediárias
entres fibras do tipo I e IIb, características transicionais. Apresentam além
de metabolismo glicolítico, capacidade oxidativa desenvolvida e resistência à
fadiga. Apresentam morfologia e propriedades semelhante às fibras musculares
IIb com acréscimo de que possuem compostos fosfagênios, como a fosfocreatina, e
enzima creatina fosfoquinase (CPK), que participam do sistema do fosfato e
garante, de modo limitado, rápida ressíntese de moléculas de ATP.
Em exercício
de segundos, o sistema fosfato é o principal fornecedor de energia à célula
muscular, porque é imediato. Quando a duração da atividade física aumenta para
alguns minutos, o sistema fosfato já está esgotado e o sistema de fermentação
lática ganha importância. Nesse estado, não só fibras musculares rápidas mas
também as intermediárias estão atuando no músculo, por exemplo na musculação e
também natação.
Recrutamento de fibras musculares
O recrutamento de fibras musculares em qualquer
exercício acontece da seguinte forma:
1° As fibras musculares lentas são as primeiras a serem recrutadas,
independente da intensidade requerida pela atividade física;
2° Se houver necessidade de fornecimento rápido de energia e grande
potência de contração, as fibras rápidas (IIa e IIb) entram em ação;
3° Se o movimento continuar, as fibras de contração rápida entram
logo em fadiga (acabam os estoques de fosfocreatina e acumula ácido lático). As
de contração lenta então é que ficam responsáveis por fornecer energia para
manter a atividade muscular. As fibras musculares tipo I persistem fornecendo
energia a partir da oxidação de gorduras e ácido lático (produzido pelas fibras
musculares rápidas); as reservas de glicogênio não é o substrato
preferencial.
Fadiga muscular é a fraqueza progressiva e perda da capacidade de
contração do músculo devido uso prolongado. Esse estado pode ser causado por
vários fatores. Um deles já foi comentado que é o acúmulo de ácido lático na
célula o que resulta na inibição de enzimas da via glicolítica (acidez do pH);
esse é o responsável por produzir a câimbra. Outro fatore é a baixa
ou queda de disponibilidade de ATP: sem energia não há contração!
Principais
ideias:
Resumidamente, temos três tipos de fibras musculares que se diferem na sua
morfologia, metabolismo energético prodominante e atuação na contração
muscular, influenciando assim a fisiologia do EXERCÍCIO. As principais
características das fibras musculares seguem esquematizadas na tabela
seguinte:
|
Por Nelson
Personal Fitness Treinamento Customizado
Profissional
de Educação Física CREF 000733 G/TO
Especialista
em Treinamento credenciado na empresa Gallo Personal Sytems-Brasil.
Esp. Em Fisiologia
do Exercício,Biomecânica e Personal na Laboro/Estácio
Professor
capacitado em Treinamento Funcional Core 3360º
Fonte
http://www.museuescola.ibb.unesp.br/subtopico.php?id=2&pag=2&num=3&sub=40
Conhecer a fisilogia do exercício não serve apenas para entender e
melhorar o desempenho esportivo.
Exercício também é saúde!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário